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Princesa Isabel e Caxambu

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A PRINCESA D. ISABEL

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Extraído do livro “Baependi”, de José Alberto Pelúcio.

Visita Beija-mão. Te Deum. Baile.
Nomes de ruas. Uma fábrica. Recordações.

Corria o ano de 1868. O município iria receber a visita da herdeira do trono brasileiro, a princesa d. Isabel. A notícia de tal evento, naqueles tempos, devia a todos muito interessar, despertando a curiosidade dos baependianos, que teriam, assim, oportunidade de conhecer pessoalmente aquela que, com o decurso dos tempos e acontecimentos, teve o cognome de Redentora.
Era, então, presidente da Câmara Municipal de Baependi José Pedro Américo de Matos.
Em sessão extraordinária, de 28 de agosto de 1868, reuniu-se a referida Câmara, que ouviu de seu presidente a declaração de ter sido a sessão convocada para o fim de “resolver-se a respeito da recepção da Princesa Imperial que se esperava passasse a cada momento por este município”, etc. “Que constando agora não se realiza mais a viagem de Sua Alteza, fica prejudicada esta parte”, etc.
Infere-se do citado trecho, constando do Livro de Atas de 1866 a 1869, o interesse que a visita despertou no pequeno mundo oficial do município, momentaneamente decepcionado com o que constou sobre a não realização da viagem.
Esse desencanto, porém, não durou muito, porque, logo a 5 de setembro do mesmo ano, vemos a dita corporação municipal, reunida extraordinariamente, movimentar-se, tomando providências para a recepção.
O procurador da Câmara compareceu à sessão; o Presidente expôs as circunstâncias da freguesia e cidade e pediu o concurso dos vereadores para que se promovessem melhoramentos locais. Ficou resolvido que um portador fosse ao Rio de Janeiro fazer compras necessárias, tais como – resposteiros, dossel, retrato do Imperador, etc. nomeou-se uma comissão para festejos, composta do Presidente da Câmara, vereadores e pessoas gradas.
As viagens ao Rio eram dificeis, realizadas a casco de animais, durante dias. O portador especial, que de Baependi seguiu para fazer compras, foi João Batista Nogueira, levando 6 bestas e recebendo pelo trabalho 100$000.
Ainda na sessão da Camara, de 2 de novembro de 1868, foi o Presidente autorizado a fazer a limpeza do terreno das Águas Virtuosas. Nesse serviço poderia gastar até 50$000.
Outras deliberações foram tomadas.
O vereador José Franklin Diniz Junqueira ofereceu 100$000 para as despesas; organizou-se programa; nomearam-se outras comissões.
Do programa constava – que a Câmara iria a Caxambu encontrar os visitantes e solicitar dia e hora para ser recebida; compareceria reunida, depois, solicitando dia para um Te Deum, em ação de graças. Deliberava-se “na cidade serão recebidos com a maior demonstração de aplauso possível, colocando-se uma banda de música fronteira a sua residência, e se pernoitar na cidade aí de noite a banda de musica tocará num coreto, a cidade se iluminará nas noitres de estada de S.A.A.A. O Senhor Presidente irá ao seu encontro na 1ª povoação do municipio”, etc.
A comissão de comércio, para festividades, ficou assim constituida: Manuel de Seixas Batista (tio do ex- deputado José Pereira de Seixas); José Teixeira de Oliveira (pai de José Teixeira de Andrade); Bigorna & Cia, (firma composta de Manuel Martins do Pilar e Francisco Martins do Pilar, irmãos, portugueses; p 1º, avô do dr. Brotero Antônio do Pilar Cobra, o 2º, pai do dr. Manuel Martins do Pilar); Marx & Irmãos (firma composta de Augusto Marx e Adolfo Marx, irmãos, franceses; o 1º, pai do dentista José Augusto Marx, o 2º, pai do dr. Moisés Marx); alferes Francisco Marcelino Pereira e Manuel Constantino Pereira Guimarães (este, sogro do dr. João Coelho Gomes Ribeiro).
Para comissão de artistas foram escolhidos: Antônio Pinto de Aguiar, José Bonifácio, Benedito Martins, José Dias e Fortunato José de Santana.
Também ficou assentado oficiar-se ao Delegado Consular portugues, para assistir ao Te Deum, ao encontro e auxiliar nos festejos; assim como a todas as autoridades, no mesmo sentido, convidando-se todos os cidadãos para o encontro, em Caxambu e Baependi.
Foi ainda nomeada, para festejo a SS. AA., a seguinte comissão:
D. Francisca A. Viotti e suas irmãs (irmãs do dr. Policarpo Rodrigues Viotti); d. Mariana, mulher do dr. Máximo (avô do dr. Carlos Coimbra da Luz); d. Elisa Leopoldina Nogueira (irmã do ex-deputado e jornalista Amaro Carlos Nogueira); d. Maria Madalena Viotti; d. Emilia, mulher do alferes Antonio José Gomes de Carvalho; d. Maria Leal de Oliveira; d. Francelina Simões (mãe do dr. Oliveira Simões); d. Ana Engrácia (mãe de mons. Marcos Nogueira); d. Emília, mulher de Luiz Fernandes (delegado consular portugues); d. Joana de Melo e Sousa (cunhada do comendador Matos); d. Pudenciana, mulher de João de Almeida (sogra do jurisconsulto dr. Joaquim Bernardes da Cunha); d. Antônia, mulher do Tte.-cel. Guerra; d. Coloriana Enout de Meireles (irmã do dr. Enout); d. Maria Sena; d. Joaquina, mulher de Manuel Constantino (sobrinha do conego Monte-Raso); d. Antônia Leopoldina Nogueira e suas filhas (mãe, a 1ª, do já referido Amaro Nogueira e do dr. Antônio Tristão Nogueira); d. Florencia, mulher de João Flausino (irmã do dr. Manuel Bernardes); d. Maria Esméria Nogueira e sua filha; d. Silvéria, filha de Antônio José de Seixas (mulher do voluntário do Paraguai, alfedes Joaquim José de Sousa Pacheco); d. Beatriz. Mulher do dr. Tomáz (avó do dr. Silvio de Almeida); d. Rita Catão (nora de Olímpio Catão, mulher do dr. Antônio Carlos Carneiro Viriato Catão, mãe do ex-senador Alfredo Catão); d. Ana Isabel Ferreira (esposa do escrivão José Joaquim Ferreira); d. Tereza Joaquina de Oliveira (avó do dr. Raul N. Sá); d. Luiza, mulher de Justo Maciel (mais tarde – baronesa de Maciel); d. Maria Rita, mulher de José Teixeira (mãe de Joaquim Teixeira de Andrade); d. Luiza, mulher do cap. José Inácio (irmã do dr. Jequiriçá); d. Teresa, mulher de Gabriel Joaquim de Oliveira; Madame Maliss, mulher do dr. Manuel Bernardes; d. Ana Zeferina de Jesus; d. Marcelina de Seixas e suas filhas (mãe, a 1ª, do cônego Manuel Carlos de Seixas Rabelo); d. Maria Batista, mulher de Antonio Pinto; d. Antônia, mulher de Hipólito (avó da esposa do dr. José Antônio Nogueira); d. Emerenciana, mulher do tte. Manuel Antônio Pereira (mãe do comendador Joaquim Pereira); d. Júlia, mulher de Antônio Marcelino (avó de dr. Mário Ferreira); d. Antônia, mulher de José Bonifácio; d. Maria, esposa do dr. Torquato; d. Antônia, mulher de Chaves; d. Maria, mulher de Teodoro Francisco Nogueira; d. Carolina e sua filha (mulher, a 1ª, de Vicente Peixoto e mãe do farmacêutico Frederico Peixoto); d. Carolina Borges (mulher de Joaquim Alves Borges, cunhada do barão de Maciel); d. Guilhermina, mulher do alferes Francisco Marcelino Pereira; d. Maria, mulher do cap. Manuel Alves Maciel; d. Ana, mulher de Júlio Cesar; d. Rita, mulher de Aureliano Candido de Almeida; d. Maria Umbelina, mulher de José Silverio; d. Isabel, mulher de Sergio (mãe do maestrino José Ricardo da Luz); d. Maria e filhas, a 1ª, mulher de Bento Nunes (avó) do dr. Jorge Dias); d. Heliodora Teotônia (cunhada de Nhá Chica, fundadora da Igreja da Conceição, de Baependi); d. Francisca Teotônia; d. Maria Marfisa Moreira (mãe de Martinho Lício); d. Ana e filha, mulher, a 1ª, de Venâncio da Rocha Figueiredo; d. Mariana e filha, mãe, aquela, de Brasiel; d. Carlota Raposo (mãe do maestro Francisco Raposo); d. Rita e filha, a 1ª, mulher de Antonio Diocleciano (sobrinha da baronesa de Maciel); d. Marfisa e filha, a 1ª, a mulher do cap. Francisco Antonio de Carvalho e Melo; d. Placidina e filhas, mulher, aquela, de José Rodrigues Pinheiro; d. Maria, mulher do tte. José Romão Nogueira; d. Rita, mulher de Francisco Gomes Nogueira.
Se grande era a animação nas esferas oficiais, menor, possivelmente, não era a que devia reinar no seio da sociedade baependiana, notadamente no mundo feminino, cujas atenções estavam naturalmente voltadas para os extraordinários festejos em perspectiva, cuidados de indumentária, ornamentação da cidade, etc.
Efetivamente, foi intensa a movimentação de Baependi, por ocasião da chegada de suas altezas ao municipio. Várias famílias, muitos cavaleiros, deixaram a sede municipal, com destino a Caxambu, indo lá assistir à chegada da Princesa, enquanto outros seguiam para Boa Vista, onde forma encontrá-la.
No trajeto que fizera, do Rio para Minas, a Princesa, diz-se, vindo sempre à frente da comitiva, certas ocasiões parava em casas pobres, mostrando-se afavel com todos.
Deixando Boa Vista, chegaram, com acompanhamento, entre festas, a Caxambu, a princesa Isabel e o conde d’Eu, ficando hospedados em uma das casas pertencentes ao dr. Carlos Teodoro Bustamante, em frente ao desaparecido Parque Hotel, casa essa que ficou servindo de palácio.
Nessa localidade, a princesa lançou a pedra fundamental da igreja de Santa Isabel. Foi uma cerimônia que atraiu a Caxambu muita gente de Baependi; diversas famílias desta cidade para lá se transportaram, armando-se, no local onde devia ser colocada a pedra fundamental, um vasto barracão, da fazenda vermelha, para abrigo dos assistentes.
Refere o livro Tombo, da matriz de Baependi, que “sendo parocho desta freguesia o R.mo Monsenhor Dr. Luiz Pereira Gonçalves de Araujo de 1868, foi esta cidade visitada por S S A A o Sr. Conde d’Eu e sua Ser.ma consorte D. Isabel, princesa herdeira: foram hospedados em Caxambu, onde fizeram o lançamento da pedra fundamental da igreja de Santa Isabel de Hungria, sendo officiante o parocho, e ajudante o R.do P.e João Pires de Amorim, acolythados pelo minorista Marcos Pereira Gomes Nogueira”; que “A estada de S. S. A. A. em Caxambu e nesta cidade, foi no correr dos meados de Novembro de 1868, tendo sido o lançamento da pedra fundamental da Igreja de Santa Isabel a 19 do dito mês faziam parte da comitiva – o R.do João Pires de Amorim, capelão, Conde e Condessa de Lages, viadores, Dr. Feijó, medico. Em Caxambu havia então apenas o Cruzeiro no alto onde se lançou a pedra; e que ali se benzera e levantara em 3 de maio de 1862, depois de Missa cantada em capela campal, sendo então V.o o R.do Conego Joaquim Gomes Carmo”.
Se bem que silencie o livro Tombo, citado, registramos a informação, que nos foi prestada, de haver, nessa ocasião, ocupado a tribuna sagrada o já referido mons. Luiz, assim como a de que a pedra fundamental estava ordenada com fitas, sendo, no ato, com ela enterradas certas moedas.
Encontramos na ata da sessão da Camara de Baependi, de 15 de dezembro de 1868, o seguinte: “O Senhor Presidente declarou apresentou o auto da fundação do lançamento da Pedra Fundamental da Igreja de Santa Isabel de Ungria que vai edificar-se na Águas Virtuosas do Caxambu, cujo auto foi entregue por Sua Alteza Imperial Dona Isabel para ser arquivado na Camara. Foi recebido com agrado; ordenou a Camara se puzesse uma capa e ficasse arquivado”.
Mas, vamos à visita à cidade de Baependi. Esta devia estar vibrante; muita gente, rua enfeitas, ostentando arcos.
Os visitantes eram seguidos de grande acompanhamento de pessoas, que da cidade se dirigiram a Caxambu.
Música, animação.
O prédio residencial de José Pedro Américo de Matos, na época um dos melhores da cidade, bem situado, com amplos salões, foi o escolhido para a hospedagem de suas altezas, que, efetivamente, no mesmo edifício permaneceram, durante sua estadia em Baependi.
Na casa a que acima nos referimos, houve ao que informam, beija-mão.
A sala principal, de frente, à direita de quem entra, estava lindamente ornamentada, guarnecendo-a cortinas brancas e muitas flores.
Meio-dia, mais ou menos.
Isabel afastou-se do fundo, vindo mais para o centro do salão; estava ladeada pelo conde d’Eu e pessoas gradas, trazia um vestido claro, azulado, simples, tendo nos cabelos uma fita azul-clara.
Dava, risonha, suas mão aos beijos de cavalheiros e damas que entravam.
Aqui referimos um episódio que nos foi contado por um descendente do velho republicano dr. Policarpo Rodrigues Viotti, filho ilustre de Baependi; – O respeitável Francisco Viotti, pai do dr. Policarpo, mostrou desejos de que este fosse beijar a mão de Isabel, escusando-se o filho, por já cultivar sentimentos republicanos; penetrou no salão, onde se realizava a cerimônia, apertou simplismente a mãoprincipesca, sem nela depor o beijo, e afastou-se.
Notada foi, também, conta-se, a atitude de Antônio de Seixas, por ocasião da passagem de Isabel e de sua comitiva para Caxambu; estava assentado à porta da sua residência, sita à entrada do caminho para aquela localidade, e assentado continuou, sem nenhum interesse mostrar pelos que passavam.
Como já ficou dito, do programa oficial constava um Te Deum, uma ação de graças. Foi o mesmo cantado na igreja matriz da cidade. Para lá partiram os visitantes da casa do presidente Matos, acompanhados de pessoas gradas, banda de música, passando sob arcos, erguidos até a igreja.
Esta, festivamente ornamentada, ostentava muitas flores, ricos arcos guarnecidos de damasco vermelho, com franjas amarelas, nos altares laterais, no cruzeiro central, no altar-mor. Ao lado esquerdo deste, armou-se um torno, com alguns degraus, dossel, dois assentos para ss. aa. Receberam ambos, então, de mãos do menorista Marcos Pereira Gomes Nogueira, velas de cera, grandes, para a solenidade religiosa; do lugar de distinção que lhes reservaram, assistiram ao cerimonial.
O templo regorgitava de povo; a música, as luzes, a ornamentação, tudo, enfim, concorria para extraordinário brilho daquela festividade.
O livro Tombo não se refere a nenhum sermão, ao ensejo do Te Deum; esclarece apenas: “De Caxambu, vieram S.S.A.A. duas vezes a esta cidade; a primeira para assistir o solene Te Deum, cantando, na matriz, em ação de graças por tão grata visita a esta parochia, e receber muitos obsequios do civismo baependiano, para que tiveram de falhar, consagrando um dia na mais doce convivência com os baependianos: a Segunda foi para ouvir na matriz a Missa de viagem celebrada no altar-mór pelo Monsenhor Vigário da Paroquia”.
Entretanto, do programa da Camara constava que se oficiaria ao pároco, afim de celebrar o Te Deum “e recitar discurso analogo ao acto”.
Finda a cerimônia, retiraram-se os visitantes, acompanhados como vieram.
A cera, comprada para o Te Deum, de Francisco da Silva Azevedo, custou 127$400.
Vimos, acima, que Isabel e o conde d’Eu tiveram de falhar em Baependi; os festejos, à noite, aí, deviam interressar vivamente a todos. Não se esqueceram da iluminação da cidade, música, etc; conta de girandolas foi apresentada à camara; posteriormente, por Antônio Odorico Gonçalves Moura. Os festejos de rua deviam ser atraentes para o povo, habituado, naqueles tempos, ao toque de sino, anunciando a recolhida cedo.
A sociedade mais fina, porém, tinha sua atenção voltada para o grande baile que ia ser oferecido aos visitantes.
Os amplos salões do paço municipal iam ser abertos ao escol baependiano, e aquele baile devia passar, como passou, a viver na memória, não só da sociedade de então, mas, também, na da seguinte, que da predecessora recebeu a narrativa da referida festa.
Realizou-se o famoso baile no edifício, já demolido, da Câmara Municipal.
Achava-se o prédio belamente ornamentado; a parte da direita de quem entrava, com acesso por uma larga porta, com arco de vidros de cores, onde funcionava o Tribunal do Juri, era constituida por um amplo salão quadrangular, que deitava, por dois de seus lados, várias janelas, tendo, à esquerda, outras dependencias, excelentemente dispostas. Aí o local para as danças.
As salas ornavam-se de flores, folhagens; havia luzes em profusão.
O salão principal estava guarnecido de reposterios, ostentando coroas de louros, vendo-se nele belo dossel com retratos dos Imperantes, em rica moldura dourada; do centro, de formoso lustre, jorrava a claridade, também emanada de artísticos e pesados candelabros de bronze – serpentinas para múltiplas luzes.
No salão, ao lado, a música.
Os trajes, tanto masculinos como femininos, eram de rigor. Os homens apresentaram-se de cartola, trazendo casaco e gravata branca, sapatos de verniz; alguns, envergavam fardões brilhantes.
As damas, tantas de encantadora formosura, ostentavam lindas vestes. Ondeavam pelas salas, numa policromia magnífica, os vestidos de cuadas longas. Os decotes deixavam que os bustos se embebessem de luz, entremostrando esplendores de beleza feminina.
Os vestidos guarneciam-se e flores artificiais, muito usadas então; não só os vestidos, mas, também, os cabelos, assim se ornavam.
Verdadeiras grinaldas coroavam as gentis cabeças das moças mineiras, caindo-lhes em galhos floridos pelos dorsos juvenis.
Em uso estavam sapatinhos de setim, leves, especialmente os de cor branca.
Aos pescoços, alvos como lírios ou morenos-rosados como flores de jasmineiro-manga, prendiam colares com imitação de pérola; vestiam à polonesa, e as saias brancas, engomadas, levemente farfalhavam ao seu airoso andar.
A moda, em fazendas, era a dos chamalotes, popelinas, nobreza, barege, veludos bordados, tarlatanas.
Os perfumes preferidos eram: – Sândalo, Mil Flores, Essência e Rosas, etc.
Isabel trazia um vestido extremamente simples, de tecido branco, leve, espécie de cassa; tão simples que chamou a atenção e, muito tempo depois, ainda se repetia que aquilo fora uma verdadeira lição de modéstia.
Dançou a primeira quadrilha com o presidente da Câmara, José Pedro Américo de Matos. Este recebeu, posteriormente, a comenda da Ordem da Rosa; foi deputado provincial.
A princesa retirou-se, ao que soubemos, antes de se findar o baile, ficando, assim, os pares em maior liberdade, depois de sua retirada.
Muita alegria, muito entusiasmo, durante a reunião. As danças mais em uso eram – quadrilhas, lanceiros, chotes, polcas, valsas vienenses.
O serviço de copa foi o melhor possível; as habilidades de nossas conterrâneas foram postas à prova. Bandejas, ricamente enfeitadas, enchiam-se dos mais delicados e saborosos doces: eram fartes, pastéis de nata, queijadinhas, bolinhos de coco, de amendoim, mães-bentas, pudins, canudos, suspiros, fatias da rainha, tarecos, fatias douradas, etc., e, enfeitando os doces magníficos, lindos e caprichosos alfenins, formando, com suas massas doces, flores admiráveis, pássaros tremulando sobre perninhas feitas de canutilhos dourados, coisas várias, interessantes, que tanto enlevo produziam em nossas prendadas avós.
Bebidas: vinhos finos, cervejas, licores – pessego, aniseta, marasquino, etc.
Em um dos compartimentos, à esquerda do salão principal, ficava a sala destinada às senhoras.
A título de curiosidade, aqui damos, em rápidos traços, a descrição das graciosas vestes de duas de nossas conterraneas, naquele famoso baile – d. Raquel Nogueira de Andrade Assunção, mocinha, na época, – d. Elisa Nogueira de Andrade, também jovem, então. A primeira trazia vestido branco, ornado com flores (um avental de rosas); flores da mesma cor e folhas verdes. A segunda trajava um vestido de tarlatana muito fino, azul-claro, com palmas de seda frouxa, decotado, com mangas curtas de filó, franzidas, por baixo de outras azues; três sobressaias, colar de contas azues, uma presilha de fitas azues nos cabelos. Usava perfume Mil Flores.
Outra dama que, dizem, chamou muito a atenção, foi América de Almeida; trazia à cabeça uma soberba grinalda de flores aquáticas, de extraordinária beleza e suave perfume.
O baile foi até cerca de 3 horas; as últimas notas da música anunciavam a madrugada.
Quanta recordação daquela noite longínqua!
Volvamos, porém, essa página; narremos outros fatos.
Em sessão extraordinária de 17 de novembro de 1868, resolveu a Câmara pedir a ss. aa. que descem nova denominação a algumas ruas da cidade.
Na sessão extraordinária de 15 de dezembro do dito ano: “O Exmo Senhor Presidente apresentou os nomes dados por Sua Alteza Imperial para as ruas – Nova do Campo, Direita e a que vai para a Matriz, sendo para a primeira – Rua do Imperador. Para a segunda Rua da Princesa Dona Isabel; e para a terceira Rua Conde d’Eu, como se vê na lista escrita por Sua Alteza, o Sr. Conde d’Eu. A Camara mandou que se observasse”, resolvendo ainda que se colocassem nos cantos das respectivas ruas os competentes nomes.
Não os conservam, hoje, as ditas ruas.
Naquele tempo, a cultura do fumo constituia uma apreciavel fonte de riqueza para o municipio de Bapendi. Na cidade existia uma próspera manufatura de fumos, que deixou nome – a de João Constantino Pereira Guimarães, a qual recebeu, então, as visitas de Isabel, Conde d’Eu e comitiva.
Cerca de duas horas da tarde, chegaram os visitantes à chácara, onde estavam instaladas as máquinas que laboravam o fumo.
Como provas, fabricaram-se, na ocasião, pacotes de fumo, de peso de libra.
A todos foi oferecido, depois, um copo d’água.
Ao retirarem-se, o conde manifestou seu agrado por tudo, fazendo votos pela prosperidade da indústria que visitaram.
Isabel trazia saia de montar; o conde, botas. A cavalo, partiram todos.
Anos e anos volvidos, em 1935, em Caxambu, penetramos, certa vez, em um salão antigo, de prédio já demolido; os moveis severos, os velhos quadros, as altas e lindas mangas de finíssimo cristal, protetoras da luz contra os ventos, a grande jarra de porcelana cara, a amplitude do aposento, o silêncio profundo que ali reinava, tudo, tudo falava do passado.
A dama, que dentro em pouco tão fidalgamente lá nos acolhia, fora, como sua culta irmã, testemunha veneranda de acontecimentos que temos narrado.
Eram ambas portadoras das vestes por nós descritas no baile de Baependi. Sobre tais acontecimentos falaram, e à lúcida memória de ambas devemos certos pormenores aqui mencionados.
Reviam, talvez com prazer pungente, aquelas cenas de outros tempos, lamentando o descaso de hoje pelas coisas veneraveis do passado.
E uma delas recordou-se, então, de outro baile, dado ao conde d’Eu, em Cruzeiro.
Por ele fora, nessa ocasião, tirada para dançar; não podia ela formular uma recusa. Tremia toda, de comoção, disse-nos.
O conde, ao contrário de outros cavalheiros, não tomava a dama pela cintura, quando dançava, mas, apenas, enlaçava-lhe delicadas mãos.
Gentil, interrogando-a sobre o local de seu nascimento, quando o conde soube que era filha de Baependi, repetiu-lhe o prolóquio, então corrente, sobre coisas boas: “Farinha, de Suruí; aguardente, de Paratí; café, de Piraí; fumo, de Baependi”.
Calou-se, depois, a dama; revia, talvez, doces reminiscências daquela noite de Cruzeiro ou da outra, tão distante já, do famoso baile de Baependi.
O salão recaia em silêncio; o ambiente era, agora, melancólico.
Vagavam, pelos ares, uns longes de saudades!.
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