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DUQUE DE CAXIAS

Extraído do livro “Baependi”, de José Alberto Pelúcio.

Luiza Rosa e o intendente Fernandes Viana.
Marquesa de Baependí. Barões de Santa Mônica.
Na fazenda Santa Mônica. Estada em Baependí.
Recordações. Provas de apreço.

Estava o Duque de Caxias intimamente ligado, em família, a um dos Nogueiras, descendente do velho tronco que se radicara na fazenda do Engenho, distrito de Baependí.
Para que bem se conheçam esses estreitos laços, é necessário que se volte nossa atenção para os afastados tempos do governo D. João VI e se retire das sombras do passado o vulto de uma alta e austera dama – Luiza Rosa, viúva do desembargador Fernando Viana, célebre intendente que, naquela época, tanto fez pelo progresso da capital brasileira, com o apoio do sr. D. João VI. Viana testemunhou contra a sua pessoa, no mesmo dia em que aquele Bragança deixava o Rio de Janeiro, a má vontade de Pedro I, que destruiu, em pessoa, auxiliado por operários do Arsenal de Marinha, a arborização do jardim do Campo de Sant’Ana – enlevo do referido Intendente.
Aquela briosa mulher, jamais se esquecendo da afronta sentida por seu esposo e estendendo sua aversão a quantos se ligassem a Pedro I, recusou a mão de Ana Luíza, sua filha, ao homem pertencente ao batalhão do Imperador e que, mais tarde, havia de ser o duque de Caxias, levando o bravo militar com isso a realizar, por uma forma romanesca, seu casamento com a encantadora filha do Intendente.
Pois a severa e obstinada senhora, que se tornou sogra de Caxias, era irmã da marquesa de Baependí – Francisca Mônica Carneiro Costa, esposa do Marquês do mesmo nome, o eminente Manuel Jacinto Nogueira da Gama. Ambas eram filhas da baronesa de Campos – Francisca Maciel da Costa, casada com o coronel das milícias, Braz Carneiro Leão.
Vinha a ser, pois, sobrinho afim da marquesa de Baependí o duque de Caxias.
Dos seus três filhos, Luiza de Loreto Viana de Lima, a mais velha, casou-se com seu primo – Francisco Nicolau Carneiro Nogueira da Gama, moço fidalgo, barão de Santa Mônica filho dos marqueses de Baependí.
Assim temos explicado a ligação de Caxias aos Nogueiras.
Foram os barões de Santa Mônica pródigos em cuidados e atenções pára com o velho Duque de Caxias, que passou a viver, desiludido, seus últimos dias, na fazenda Santa Mônica, sita no estado do Rio de Janeiro, em Desengano, atualmente Japuranã, fazenda que recebeu seu nome em honra ao da Marquesa de Baependí.
Lá se fundou o ínclito brasileiro, num quarto simples, numa simples cama de ferro.
Aquele glorioso militar, que a morte arrebatou antes de completar 87 anos de idade, fora o homem de confiança que o governo do império escolhera para julgar, em São Paulo e em Minas, a revolução de 1842.
E a esse fato aqui nos referimos pela parte relevante que no dito movimento teve Baependí.
No plano inicial da invasão de Minas pelas forças governamentais, alem de outras colunas que se destinavam a diferentes pontos da Província, uma força havia, organizada pelo próprio Caxias quando ainda de encontrava em São Paulo, comandada pelo coronel Manuel Antônio da Silva, visando a Mantiqueira e, no setor desta, a então convulsionada Baependí.
Não nos consta, porém, que nesta cidade, na época daquela revolução, estivesse o notável cabo de guerra, que tão bem sabia aliar a bravura à nobreza dos gestos, como o que teve para com Teófilo Ottoni, e seus companheiro de prisão, permitindo-lhes a viagem à cavalo para Ouro Preto e ordenando a retirada das algemas que traziam, apenas soube, em Sabará, da vexatória situação em que se encontravam os ditos revolucionários mineiros.
Num mapa das viagens do benemérito patrício, inserto em Caxias , trabalho de Afonso de Carvalho,vem a de Baependí.
Pena é que a mesma não dedicasse o referido escritor, em cuja obra colhemos valiosos subsíduos para estas linhas, esclarecimentos que seriam interessantes para a velha cidade, honrada com a visita do intimorato patriota, do qual o Brasil tanto se ufana.
Essa visita, que devia ser algo demorada, pois o glorioso militar, durante a mesma, fazia uso das águas minerais de Caxambu, realizou-se antes de junho de 1855.
Como decorreu a estadia do então marquês de Caxias em Baependí?
Da melhor forma possível,
Apesar de, relativamente não haver transcorrido muito tempo entre a revolução de 1842 e a estada do mesmo no lugar onde ela teve, como se sabe, assinalado surto, conquistou o Marquês “sympatias e affeições no meio desse povo”, como no-lo refere o Baependyano, de 16 de maio de 1880.
Aludindo, então, essa folha do ano de 1842, “no qual o ilustre hospede representou papel tão conspícuo como paladino da ordem, e portanto de um dos partidos em lucta na guerra civil das províncias”, acrescentou: “Bem digno de estima devia ser o cidadão que só soube despertar taes sentimentos em um povo, a cujas discórdias intestinas sua personalidade estava tão vivamente associada”.
Não foi ele, pois, somente um conquistador de cruentas vitórias, mas, também de “sympatias e affeições” populares.
Daí a estima e a confiança que inspirava aos dirigentes baependianos que, na Câmara Municipal, o escolheram, em 1865, com outros estadistas de renome, como já algures o referimos, para a domissão que, pela municipalidade, havia de congratular-se com o conselheiro Paranhos pelos seus serviços no Prata.
Para os baependianos de hoje, talvez seja interessante o conhecimento de alguns pormenores da estada de Caxias na cidade e, por isso, mencionaremos, a seguir, com as nescessárias reservas, à mingua de documentação escrita, o que a esse respeito chegou ao nosso conhecimento, através de informações que nos foram ministradas.
Em casa de Olímpio Carneiro Viriato Catão ter-se-ia hospedado Caxias.
A casa onde ficou, já desaparecida, situava-se à rua 28 de setembro (rua de baixo), no local onde presentemente esta a residência da viúva de Francisco José Pereira (d. Caquinha); era assobradada, ao lado de um beco aí existente, para onde se abriam várias janelas, na parte superior.
Em casa de descendentes de Olímpio Catão, acima referido, existia, não há muito, uma cadeira confortável, de madeira escura (provavelmente jacarandá), conhecida na família como “cadeira de Caxias”, a este reservada, de preferência, quando da sua visita a Baependí.
Um jarro e bacia de prata, hoje pertencentes a igreja matriz de Baependí, em virtude da doação à mesma feita por descendentes do referido Olímpio Catão, foi presente que se recebeu de Caxias, segundo as mesmas informações a que já aludimos.
Não sabemos a data do regresso do ilustre hóspede; sabemos, porém, que Baependi não esquecera. Aconpanhara, ainda que de longe, sua brilhante trajetória. Não lhe regateou aplausos, como o comprovam os seguintes documentos:
“Junho 12. Ao Exmo. Duque de Caxias. Exmo . Senr.
A Câmara Municipal de cidade de Baependy, em nome de seus Munícipes, reconhecendo os relevantes e valiosos serviços prestados por V. Ex.ª na atual guerra do Paraguay, guerra que foi provocada pelo Dictador daquella Republica, e que levou a Nação a toda sorte de sacrifícios, d’entre elles muito apreciou esta Câmara a conducta de V.Ex.ª prestando-se com toda abnegação commandar as forças da terra e mar, que guiadas de Victoria, conseguirão o almejado fim, e se nos combates manifestou a V. Ex.ª tanto valor, se a honra Nacional foi disaggravada, de taes feitos a história fará menção, e ficará gravada para a Pátria immorredoira gloria, e para V. Ex.ª renome e gratidão do Paiz. Deos G. a V. Ex.ª Paço da C.ª M.al da Ci.de Baependy em Sessão extraordinária de 12 de junho de 1869. Exmo.Señr. Duque de Caxia – O Presidente Felício Germano de Ol.ª Mafra Viotti, José Silvério da Luz – Joaquim Ignácio de Mello e Souza”.
“Junho 12 – Ao Conselheiro Francisco de Paula Negreiros Saião Lobato.
“I11.mo Exm.º Senr. A Câmara Municipal da Cidade de Baependy, em Sessão de 12 do corrente mês, resoveo por unanimidade de seus menbros, felicitar ao Exm.º Senr. Duque de Caxias, pela sua incomparável abnegação patriótica e grandes feitos na ingente Campanha do Paraguay. Esta Câmara tendo em vista a alta posição do Exm.º Duque, tomou a liberdade de escolher a V. Exa. Para fazer parte da comissão que tem em nome da mesma Câmara de apresentar a felicitação que dirige ao M.mo Exm.º Duque de Caxias; e certa de benevolência de que foi V. Ex.ª escolhido pela Câmara e tão bem os Exm.º Senr. Conselheiro Dr. Luiz Carlos da Fonseca e Dr. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz. Esta Câmara certa de merecer de V. Ex.ª esta graça, se confessa desde já agradecida, e junto achará V. Ex.ª a felicitação respectiva. Deos G. a V. Ex.ª Paço a C. M.ª da Cidade de Baependy, em sessão extraordinária de 12 de junho de 1869.
Ilmo. Exm.º Sem. Conselheiro e Senador do Império Dr. Francisco de Paula Negreiros Saião Lobato. O Presidente da C.ª Felício Germano do Oliveira Mafra – Flavio Antonio de Paiva Jr. – Domingos Rodrigues Viotti, Joaquim Ignácio de Mello e Souza, José Silvério da Luz.
Officios mais ou menos como no último com pequenas e nescessárias modificações na mesma data foram enviados ao conselheiro Dr. Luiz Carlos da Fonseca e ao Dr. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz.
Dissemos já que Baependi nunca se esquecera de Caxias. De fato conhecida a notícia de sua morte, informava O Baependyano, de 20 de junho de 1880:
“Duque de Caxias – A Câmara Municipal desta cidade nomeou uma comissão composta dos Srs. Dr. Antonio Álvares de Abreu e Silva e Conselheiro Joaquim Delfino Ribeiro da Luz para dar pêzames a família do grande cidadão cuja perda o paiz há de sempre deplorar , o Duque de Caxias.”
A mesma folha baependiana, de 16 de maio do citado ano, a propósito do passamento do egréguio brasileiro, assim fechou a notícia de sua redação: “Isto posto e antes de dar a palavra aos collegas, e a seu exemplo, deporemos sobre o tumulo do grande cidadão de uma coroa de saudades, em sincera homenagem d’estima, respeito e reconhecimento aquele que tanto fez por seu país natal, chegando a sacrificar, para servi-lo, o conforto, a doce convivência com os seus por vez, e, enfim, até a saudade e a vida.”

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